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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Dia desses, entrei num vagão de metrô onde haviam várias criaturas naquela fase obscura e ao mesmo tempo cintilante da vida - a adolescência. Shorts curtos, blusas coladas, bonés rosas em cabeças masculinas, tranças com detalhes coloridos, brilho na boca. Pernas frenéticas. Bundas que não paravam sentadas. Línguas incansáveis. Estavam fazendo um show naquele vagão. Contavam piadas e riam eles mesmos, em voz altíssima, quase gritavam. E algumas vezes, gritavam mesmo.
Confesso que tive vontade de rir em alguns momentos. Contive-me. Então, me senti uma velha. Todos que não faziam parte do grupo fingiam não reparar na bagunça que aqueles seres estavam a promover. Ou então viravam os olhos, torciam a boca, soltavam risinhos de ironia. E eu, eu também. Eu, que um dia já me afirmei surfista nos corredores dos ônibus em movimento, me equilibrando sem apoiar as mãos. Eu, que me arriscava em apresentar números complexos de estrelinhas duplas pelas calçadas. E ria loucamente até ficar vermelha na cara e produzir lágrimas, por entre estranhos de rostos emburrados, que passavam pelas ruas, sem nenhum tempo e paciência. Esses estranhos eram mesmo bem estranhos. Não viam graça nas coisas bobas, não tinham mais vontade de ter dores de barriga de tanto rir? Fiquei apavorada com essa lembrança: pelos meus cálculos, eu deveria ter me tornado uma estranha. O tempo passou e agora estou eu, sentada num canto olhando pra janela [vendo nada], sozinha, séria e com alguns problemas na cabeça. Tentando esconder que um dia eu fui ridícula assim, como esses adolescentes bestas, histéricos e indiscretos.
Uma menina loira que tinha tranças vermelhas jogadas pra trás e grandes olhos disse algo, que eu não me lembro oque era, mas não fazia sentido algum. Humor non sense? Soltei uma risada sincera, e gostei. Me empolguei, e lembrei de quando isso acontecia frequentemente, e ri por todos esses dias. Por todas as piadas que me vieram à memória. Entrei em desepero quando percebi que era eu a mais idiota de todos ali, mais que os adolescentes tapados, mais que os estranhos infelizes. E eu era sozinha. Os meninos se olharam, pararam o show. O show agora era eu, sentada num canto, me contorcendo de tanto rir. O desespero, me fez rir ainda mais. As estações foram passando, algumas pessoas desciam e eu continuava agonizando em minhas risadas, esforçando-me para não fazer muito barulho. Gargalhava em seco, muda.
Minha hora de descer chegou, e eu ainda ria. Enquanto andava, a empolgação diminuía, até que voltei ao meu estado normal. Lembrei dos rostos que vi no vagão. Os estranhos adultos e os adolescentes. Me safei de ser um ou outro.